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VIDA A POSSIBILIDADE DE VIDA EM TITÃ
Figura 3: Ligeia Mare, um dos muitos lagos da região Norte de Titã, fotografada pela sonda Cassini da Nasa. É o segundo maior corpo
líquido de Titã composto por hidrocarbonetos como metano e etano.
de vida evoluam adaptadas a outros solventes? Nome- do nosso metabolismo.
adamente, aos hidrocarbonetos que constituem os lagos O último pilar para a habitabilidade de um ambiente sali-
e ribeiros de Titã, ao longo dos quais processos físico-
químicos transformam matéria orgânica analogamente a enta a necessidade de uma fonte de energia com que um
cenários (aceites como) válidos para a origem da vida aqui sistema químico possa alimentar a sua atividade, cresci-
na Terra? O que nos falta compreender sobre o fenómeno mento e reprodução. Há muitos desequilíbrios termo-
de vida obriga-nos a considerar possibilidades como estas. dinâmicos que, em teoria, podem ser explorados por um
E não há outro local no Universo que desafie tanto os nos--
-sos preconceitos como esta lua de Saturno. Figura 4: Imagem de vídeo da sonda Huygens ao mergulhar na
espessa atmosfera de Titã.
O segundo pilar para a habitabilidade nota que, aceitan-
do a vida como um fenómeno químico, um possível habi- Figura 5: Desenho de um possível lago em Titã.
tat deve dispor de elementos químicos acessíveis a ela. A
biologia usa pelo menos 77 elementos, mas 6 deles são
imprescindíveis aos ciclos e vias metabólicas mais funda-
mentais dos seres vivos terrestres: carbono, hidrogénio,
nitrogénio, oxigénio, fósforo (phosphorous em inglês), e
enxofre (sulphur em inglês), conjuntamente denominados
por CHNOPS.
Os astrobiólogos acreditam que a superfície de Titã pos-
-sui todos estes elementos fundamentais. Ainda assim, é
importante notar que não basta encontrar um elemento
químico para que a segunda condição de habitabilidade
seja estabelecida. Para um elemento químico ser incorpo-
rado num sistema vivo, ele deve encontrar-se em molécu-
las e/ou estados de oxidação que o organismo consiga
metabolizar. Daqui afloram considerações como cenários
de lixiviação do rególito pelos solventes existentes, avalia-
ções do histórico de impactos que tenham introduzido ele-
mentos químicos no corpo celeste, e estudos de atividade
geológica e reações atmosféricas. Ainda que se acredite
que moléculas orgânicas complexas, à base dos elemen-
tos químicos CHNOPS, se possam formar e acumular na
superfície de Titã, é aceite que macromoléculas biológi-
cas, como o ácido desoxirribonucleico (ADN), sejam inex-
istentes nesta lua. Assim, ainda que seja possível vida em
Titã, a constituição desta será inevitavelmente distinta da
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